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Como eu fui de consumista para consumidora consciente depois de ter sujado meu nome?

janeiro 05, 2023

Como eu fui de consumista para consumidora consciente depois de ter sujado meu nome

     O ano era 2013 e eu tinha R$300 negativos na minha conta bancária. Aos 21 anos o meu pequeno salário de estagiária era a minha liberdade e eu não tinha muita noção de controle financeiro (o que já ficou claro nas primeiras linhas desse texto). O céu era o limite e as ruas do centro da cidade o meu paraíso, cada ida à faculdade era um motivo para entrar em uma loja aleatória e gastar o dinheiro que eu não tinha em blusinhas de R$8 que eu não precisava. O resultado era um guarda-roupas lotado, uma conta bancária vazia e uma auto estima descompensada. 

     Na imaturidade dos meus vinte anos, levou um tempo (e muita terapia) pra que eu entendesse de onde vinha esse desejo de gastar cada centavo: eu queria pertencer. Veja bem, como toda adolescência, a minha também não foi incrível. Óculos, aparelho, cabelo volumoso e um coração partido, eu não tinha nada em comum com a Mia Colucci que eu tanto via na televisão. Eu posso não ter dado trabalho aos meus pais, mas garanto que a briga acontecia dentro da minha cabeça. Eu não me achava bonita. E olhando fotos da época, eu ainda não acho que eu era. Anos depois eu engatei um relacionamento que durou muitos e muitos anos (e que me rendeu um casamento e mais um coração partido) com um dos caras mais bonitos da nossa escola. Eu sabia que ele chamava atenção e eu simplesmente não me sentia à altura dele. Era muito comum que, mesmo depois de adulta, eu me questionasse "o que foi que ele viu em mim?". Amar o reflexo no espelho era difícil, então eu fiz o que achei mais lógico naquele momento: agreguei valor à minha imagem. 

     Nunca me esqueço de quando a Forever 21 chegou no Brasil. Eram filas intermináveis, roupas a um bom preço e modelagens bem diferentes do que tínhamos por aqui na época. Naquele dia dos R$300 negativos minha irmã me chamou para acompanhá-la no shopping e ajudar na escolha de um look para alguma ocasião que não me lembro. E eu fui, sabendo de que não poderia gastar nem um centavo. Enquanto circulava pela loja me apaixonei umas dez ou doze vezes. Sendo franca, não precisava de muito para conquistar o meu amor, bastava estar pendurado na arara. E se estivesse em promoção eu passava de "quero isso" para "eu preciso disso ou não vou ser capaz de seguir com a minha vida". E entre uma paixão e outra resolvi consultar o aplicativo do banco. Não consegui segurar o sorriso quando percebi que o meu vale-transporte havia caído e agora minha conta estava em R$52. Naquele instante eu me dirigi ao caixa da Forever 21 e comprometi (outra vez) o meu cheque especial gastando R$289 em uma calça jeans, um vestido e uma blusinha. E aquela era só a primeira loja do dia.

    Não foi naquele dia que a chavinha virou na minha cabeça, eu ainda achava o meu comportamento normal e não enxergava que tudo o que eu buscava naquelas sacolas de roupa era o meu amor-próprio. Mas pouco depois começaram as ligações de cobrança, as cartas do Serasa e os empréstimos. Foi numa tarde de sábado, enquanto produzia um roteiro para o meu canal no Youtube, que eu esbarrei em um post sobre o projeto 'Um ano sem compras' (que anos depois soube que teve como inspiração o 'Um ano sem Zara' da Joanna Moura). Me pareceu certo e me pareceu feito pra mim, era isso que eu precisava para finalmente dar fim à bola de neve que minha vida financeira havia virado. Então eu me comprometi a passar um ano inteiro sem gastos com roupas ou acessórios. Spoiler alert: desisti no sexto mês. Mas aquela já era uma Ana Laura completamente diferente. 

"E eu tentei muitas vezes, mas a exorbitante fatura do cartão de crédito era incentivo o suficiente pra seguir com o meu plano, então eu me mantive firme"

    Não foi fácil, eu tentava arrumar desculpas, buscava uma brecha e pensava em desistir. Porque é isso que fazemos quando saímos da nossa zona de conforto: buscamos uma forma de voltar correndo pra ela. E eu tentei muitas vezes, mas a exorbitante fatura do cartão de crédito era incentivo o suficiente pra seguir com o meu plano, então eu me mantive firme. Desisti em seis meses, é verdade, mas o motivo foi mais do que plausível: eu estava prestes a fazer a minha primeira viagem internacional, eu finalmente conheceria Nova Iorque, o sonho da minha vida. Queria aproveitar a viagem sem o peso do desafio, fazendo e comprando tudo o que tivesse direito (e ainda bem que tomei essa decisão, já que a minha mala extraviou e eu precisei comprar roupas logo nas primeiras horas nos EUA). Mas quando voltei a comprar percebi que havia algo de diferente nas minhas ações e isso afetou o resto da minha vida. 

Como eu fui de consumista para consumidora consciente depois de ter sujado meu nome?
Eu na Macy's em 2014 muito empolgada com o preço das coisas no Estados Unidos.


    No passado bastava estar barato e eu logo levava para o caixa. Não precisava ser do meu tamanho, não precisava ter qualidade, não precisava nem fazer o meu estilo, bastava que eu visse ali uma oportunidade. Mas depois de tanto tempo bloqueando os meus hábitos antigos eu finalmente entendi o significado de consumo consciente. Para o Ministério do Meio Ambiente consumo consciente é aquele que leva em consideração o meio ambiente, a saúde animal, as condições de trabalho e etc. Quando aplicado no meu dia a dia (e no seu, espero), esse conceito me faz ter intenção na compra, me faz pensar na real necessidade daquela aquisição e isso afeta o meu bolso e a minha auto estima.

"Não precisava ser do meu tamanho, não precisava ter qualidade, não precisava nem fazer o meu estilo, bastava que eu visse ali uma oportunidade"



    Gastar menos e poluir menos é incrível, eu sei. Mas os seis meses de abstinência do consumismo me mostraram um caminho muito saudável para o amor próprio e essa foi a maior mudança de todas. No final das contas eu só me escondia por baixo de camadas e mais camadas de roupas baratas. E quando encarei o espelho finalmente entendi quem era aquela pessoa que me sorria no reflexo. Recentemente eu flertava com um cara em um bar na Vila Madalena quando ele me disse "você é linda, sabia?", eu prontamente respondi com "na verdade eu sei sim". Ele não foi o primeiro e nem o último a ouvir essa resposta, afinal eu penei muito para me amar do jeitinho que eu sou, independente de quantas roupas eu tenha no armário. E posso falar? Eu descobri que sou foda pra caralho.

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